sábado, 19 de setembro de 2009

Make the most of a bad situation

Katmandu, 19-09-2009 16h42


Dois dias de viagem, uma greve pelo meio, voo cancelado, mais um dia em "nowhere's land". Saio no dia a seguir sem certeza de haver ou não voo.
Pelo meio, inúmeros (mas bué mesmo) controlos policiais. Corre o rumor que há movimentações militares chinesas ao pé da fronteira com a índia. Andam nervosos os indianos. Câmara fotográfica "retida" algures por Leh-Delhi-Katmandu. Chego a Katmandu numa de "João, no pasa nada! Atitude positiva, são cenas que acontecem".

Chego ao sítio onde me propus a fazer duas semanas de voluntariado. Sigo as indicações que me deram (40km de Katmandu, numa aldeia perdida pelas montanhas), encontro um sitio/casa fechada e com pinta de não ser usado há algum (bastante) tempo. Telefono para o número de contacto que tenho.
- “Chego em 10 minutos.”
Oiço do outro lado. Passadas duas horas e já noite chega o meu contacto.
- "Ah, então tudo bem? Pois, sabes, és o único voluntário que pôde vir, o resto cancelou tudo. Logo, claro, o que tínhamos para fazer - a reconstrução da tal escola - foi também cancelado, porque como é obvio não podes fazer isso sozinho".

Estou demasiado cansado para pensar no que implica aquilo que este rapaz me esta a tentar dizer. Só quero um banho e dormir tranquilamente. Amanhã oiço com mais atenção e perguntarei se sou o único e se não há nada para fazer, então porque é que me disseram para vir para aqui!? Mas prefiro não pensar muito nisso....ainda.

Entro na casa onde vou ficar e o cenário não melhora. Alias, piora consideravelmente. Suja, muito suja mesmo...a casa de banho dá medo (banho cancelado), a cozinha pesadelos. Vou para o quarto, acendo a luz, passado 5 minutos fico sem luz. No Nepal cortam a luz no período em que precisamente precisamos mais dela (19-22h). Saco o saco de cama, tento adormecer, oiço uns ligeiros barulhos, pego na lanterna, aponto e vejo uns pequenos e simpáticos roedores.

Não da para aguentar (desculpa lá mãe, se me tas a ouvir/ler mas tem mesmo que ser) e tens que soltar um sonoro e valente: FOOOODAAAAASSSSEEEE!!!!! Alias este sonoro e valente palavrão é seguido de uns 10 foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se (afinal foram 11).

Pões Sigur Ros no teu Ipod e tentas dormir e já está. Amanha logo se vê.
No dia a seguir, depois de uma volta alone pela aldeia (muito bonita e invulgar diga-se de passagem) decido dar uma oportunidade a este sítio e a esta gente que me fez vir de tão longe para aparentemente nada.

Falo com eles a sério e digo-lhes que isto é muito grave, e uma falta de respeito para o voluntário que teve que por dinheiro e tempo para esta experiência e que não podem pura e simplesmente deixar-me aqui sozinho sem nada para fazer. Assustam-se com o tom e o tipo de discurso. Prometem compensar-me, e que farão tudo aquilo que puderem para que os meus 15 dias com eles sejam de proveito para os dois lados.

Hoje (sábado) já estou há uma semana com eles. Tenho sobretudo visitado escolas, templos, sítios, famílias e não posso dizer que o tempo não tenha sido bem aproveitado. Estou em parte ainda chateado com eles, mas por outro lado tento aproveitar esta experiência de outra maneira. Sou o único estrangeiro no raio uns 50 km. O que no Nepal deve ser difícil de encontrar. As pessoas recebem-me bem por onde passo. Convidam-me a comer, beber e ate a dormir nos seus próprios abrigos.

Vejo insólitas cerimónias religiosas. Convidam-me a participar nelas. Os miúdos reúnem-se à porta da minha casa (entretanto já bastante mais limpa) cantam, dançam, brincam e sacam-te logo um grande sorriso logo pela manhã.
Hoje sábado levaram-me a um ciclo de documentários asiáticos e agora estão a escrever com uma paisagem indescritível à minha frente.

Começou mal, mas pode acabar bem e é nisso que tento por as minhas energias…Tal como dizem os anglo-saxónicos "Make the most of a bad situation".:-)

Abraço a todos


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